quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O fruto da Grande Guerra - o projeto idealista

O fim da primeira Grande Guerra gerou desastres imensuráveis na Europa, desde a distribuição geográfica até os sistemas políticos. O grande número de mortos, sem um propósito realmente definido, trouxe tremendos danos psicológicos a população. As pessoas não conseguiam imaginar a possibilidade de uma nova guerra, tamanho era o desespero das mesmas. Impérios que foram destruídos estariam agora se uma diretriz política a seguir. A Europa precisava ser reconstruída em todos os aspectos.

Após o fim militar da guerra, a Europa está um caos político. Os impérios não existiam mais. O Império Otomano desaparecera. O império Inglês não conseguia mais controlar a Europa, não tinha mais dinheiro para manter o valor do ouro estável para todos os países do continente. Um dos impérios mais antigos, o Império Russo passou a ser a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, agora comunista. A França estava completamente devastada. Existiam focos de ameaça comunista por toda a Europa, além da Rússia. A Europa precisava de uma mudança radical diferente da proposta comunista e diferente da tradição européia. a política tradicional, a busca pelo poder, as balanças de poder haviam gerado aquele conflito todo. Existe a necessidade de algo diferente. Surge aí o idealismo.

Seu grande representante no momento era o presidente dos EUA, Woodrow Wilson. Ele era um presidente atípico, não tinha uma carreira pública. Era acadêmico. Toda a sua vida foi professor de Direito Internacional Público. o fim da primeira guerra era o momento ideal para aplicar o projeto idealista. A opinião pública clamava por algo que evitasse outra guerra. As pessoas não queriam guerra nunca mais. O projeto idealista era uma alternativa para a guerra.

Naquele momento surgem as possibilidades para o sistema político internacional: o idealismo, com Wilson, ou o comunismo, com Lênin. Os dois projetos afirmavam a paz, a ausência de balança de poder, sem busca por alianças. Lênin oferecia  fim dos Estado, uma sociedade 100% global, comunitária, regida por si mesma. e um projeto revolucionário, de luta de classes que acaba com o aspecto estatal. Wilson ganha o maior apoio, pois o idealismo não ia contra o capitalismo, não defendia o fim dos Estado, não interfere no caráter da sociedade estatal. O projeto idealista era o que parecia mais apropriado para para o cenário político internacional, pois propunha a paz em interferir na divisão política dos Estados. Wilson transforma, mas não radicaliza a transformação.

O idealismo foi um movimento social e político, e não uma teoria acadêmica, como foi o realismo, criado para contrapor o realismo. Os fundamentos do projeto idealista tinham sua base principal em três autores da Teoria Política e Econômica. John Locke (1632-1704), um contratualista inglês do século XVII, defendia a mutabilidade da natureza humana e a possibilidade de transformação de seus costumes, de se adaptar. Segundo Locke o homem pode gerar cooperação com outros indivíduos sem a ameaça do Estado. Adam Smith (1703-1790), um dos principais  personagens da teoria econômica e defensor do livre mercado e da interdependência, afirma que o livre mercado se auto-regula, pois um indivíduo buscando seu interesse acaba alcançando resultados positivos para toda a sociedade. Os idealistas aplicaram essa idéia à relação entre Estados também. Um Estado buscando seu interesses acaba ajudando o outro e assim se complementam. Essa é a interdependência que geraria a paz, pois países dependentes não se atacam. E, por fim, Immanuel Kant (1724-1803), um filósofo prussiano, afirma que a paz entre os Estados deve surgir de um acordo real entre eles, de uma Confederação para a paz, de uma Liga, que no futuro viria a ser a Liga das Nações, mãe da Organização das Nações Unidas - ONU. O autor defende a idéia de que se a decisão da existência, ou não, da guerra depender do povo, a resposta será não. Então, Estados republicanos democráticos tem, segundo a teoria de Kant, muito menos propensão a cair em guerra.

Os três autores compartilham de algumas idéias, que serão adotas pelo idealismo, tais como: o liberalismo econômico, a capacidade de mutabilidade da natureza humana, a interdependência dos Estados, repúdio à teorias estadocêntricas e à ação política baseada em balança de poder. Defendem ainda os direitos humanos e a república democrática.

A escolha dos autores, que levam aos ideais, foi motivada pela conjuntura internacional do início do século XX, ou como diria Hobsbawm, do final do século XIX. Para entender o projeto idealista é preciso entender como aconteceu e quais as conseqüências da Primeira Guerra Mundial, pois não haveria nada parecido se não houvesse a guerra. Uma questão a ressaltar é: por que a primeira guerra e não a segunda? Por mais que pareça mais importante, a Segunda Guerra Mundial foi apenas mais sangrenta que a Primeira. Os piores desastres e desestruturações políticas aconteceram na primeira guerra mundial: ela encerra de forma assustadora a tradição política européia.

(por Ana Carolina Monteiro)

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