O que seria integração? Aproximação, coesão, unidade, relação, conexão, sinergia, cooperação. Ao pensar em integração, provavelmente o que vem à mente são acordos entre países, como União Européia, Mercosul, etc. Podemos sim considerá-los como representantes da Integração Regional, mas talvez seja uma visão simplista do fenômeno, ou então, a visão mais complexa. A integração começa com a interação, a idéia pressupõe algum contato ou relação.
O processo de integração regional, embora tenha ficado notório na década de 50 e 60, com os primeiros passos da União Européia, a Comunidade do Carvão e do Aço, o fenômeno explode na década de 90, por influencia do final da guerra fria e da Terceira Revolução Industrial. As distancias se encurtaram, permitindo que o mundo todo estivesse em contato, seja contato real ou virtual. Isso contribuiu para a expansão de idéias, hábitos, costumes, objetivos, etc. Após a queda do Muro de Berlim, os países viram a necessidade de se integrar para poderem crescer, para evitar conflitos, para se fortalecerem economicamente, e vários processos de integração começaram então.
Segundo Andrew Hurrel, podemos classificar a integração em cinco grupos, segundo sua profundidade, ou de onde parte a integração. O primeiro seria uma regionalização. Essa se daria entre pessoas. Um crescimento da integração da sociedade em uma região, independente da vontade do Estado. Um crescimento de circulação de pessoas e do uso das redes sociais, por onde idéias e costumes se espalham. O segundo grupo de integração seria a criação de consciência e identidade regional, que se baseia em valores culturais, históricos e religiosos. Este grupo é impreciso e vago, as regiões acabam sendo vistas como comunidades imaginadas, criando uma identidade entre elas. Aí existe um sentimento de pertencimento ao grupo. O terceiro grupo é o da Cooperação regional entre Estados. Aqui, a decisão de integrar vem do Estado. Começa apenas com a vontade política de se integrar seja para ganhar algum benefício o apenas para diminuir os conflitos, bélicos ou não, entre os dois. Não precisa ser uma cooperação exatamente econômica, embora seja a mais usada, mas nesse caso a vontade vem completamente da cúpula. O quarto grupo já é mais abrangente, e conhecido. Podemos dizer que a Integração Econômica Regional promovida pelo Estado tem sido bastante explorada ultimamente. Ela consiste na aproximação, negociação e acordo entre Estados, mas também entre seus empresariados. Por ter um caráter mais econômico e comercial, esta envolve e estimula as empresas a participarem. Cabem ao Estado, no entanto, as decisões específicas de políticas para reduzir barreiras que existam para esse intercâmbio. O quinto e último grupo é chamado de Coesão Regional. Este, o mais complexo e aprofundado, consiste na reunião dos outros quatro “tipos” de integração. A União Européia caminha para este status, ou grupo. Isso pode se dar por etapas, ou seja cada grupo ser uma etapa do processo de integração, não necessariamente nessa ordem, e também estar realmente presente ao final das etapas.
Hurrel também tenta analisar este fenômeno sob a ótica das teorias de relações internacionais. Ele o faz sob diversas lentes, para buscar diversos “pontos de vista” do fenômeno no cenário internacional. Para os neo-realistas, “a política do regionalismo e a emergência dos alinhamentos regionalistas têm muito em comum com a política de formação de alianças”. É como se os países vissem na oportunidade de se integrar a chance de se fortalecerem, e a possibilidade de extrair para si os maiores benefícios. Como o caso da União Européia se integrar para estar forte e poder concorrer com os EUA no cenário internacional, se fortalecer contra a URSS durante a Guerra Fria e conter a Alemanha em seu próprio “território”. Os países fracos também buscam a União européia como meio de se defender, ou se afirmar, como foi o caso do Chipre que entrou para a União Européia. As grandes potências hegemônicas, quando em declínio tendem a se aliar, ou integrar, pois regionalmente ainda tem poder, e junto com outros países pode exercer seu “ofício” de líder, e ao mesmo tempo compartilhar dificuldades, ônus, que possam vir de seu declínio.
Já para os teóricos da Interdependência e globalização, a interdependência econômica atualmente vem ficando cada vez mais densa e profunda, um dos reflexos da revolução da informação, que aumentou o volume de transferências de informações e idéias e do fluxo de dinheiro e mercadorias também. Segundo Hurrel, esse fenômeno aumenta a capacidade de grupos que pensam da mesma maneira organizarem-se além das fronteiras nacionais. Os países agora tendem a cooperar, a se unir para tentar resolver problemas comuns, como a questão ambiental, a questão dos refugiados, desastres humanitários, etc. Cria-se uma gama de instituições, regionais ou não, que aumentam o nível de cooperação entre Estados. Entretanto, pela proximidade, e similaridade que as regiões têm, histórica, cultural, os países tendem a integração para resolver problemas coletivamente. Essa tendência a cooperar que é a base da integração para os teóricos desta escola.
Para os neofuncionalistas, entretanto, à medida que o nível de interdependência aumenta, estabelece-se um ritmo de cooperação que acaba levando a uma integração política. O principal argumento dos neofuncionalistas é que a integração se tonaria auto-sustentada, pois a cada passo de cooperação e integração surgiram novos pequenos problemas que só poderiam ser resolvidos com mais cooperação e por isso, um aprofundamento da integração. Defendem também o alto grau de institucionalização, com instituições supranacionais, que a integração criaria e fomentaria.
Segundo Hurrel, já para os institucionalistas neoliberais, o aumento de interdependência leva ao aumento da demanda por cooperação internacional. Criam-se então normas, regras e instituições, para que essas ajudem os Estados a lidar com os problemas comuns e através de negociações os países possam ampliar o bem-estar. Eles defendem o papel forte do Estado, mas mostram que os Estados também podem cooperar. “A meta é isolar e analisar as constelações particulares de poder, interesses e preferências que possam explicar as fontes e os limites do comportamento cooperativo”. Para os institucionalistas a integração cria problemas materiais que necessitam de gestão coletiva; e incentiva os Estados a reduzirem os custos de transações e a facilitar as relações intra-regionais.
Os construtivistas dão ênfase no sentimento de pertencer a uma comunidade, seria isso o regionalismo cognitivo. A coesão regional depende, portanto, de mútua responsividade, confiança e interdependência cognitiva. Conceitos como simpatia mútua, lealdade e identidade compartilhada podem ser encontrados nas teorias de integração construtivistas como necessários para a coesão regional. Também devemos dar destaque a necessidade de princípios compartilhados, normas coletivas e valores sociais maiores e com grandes níveis de transações entre a região, seja material ou por redes de comunicação social. Ou seja, países capitalistas, ou democratas, tendem a se integrar pelos princípios compartilhados e valores maiores da sociedade.
Esse foi um pequeno do resumo do que seria integração após estudar um pouco o tema. O texto foi baseado no trabalho de Andrew Hurrel, O Ressurgimento do Regionalismo na Política Mundial.
(Por Ana Carolina Monteiro)
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