sexta-feira, 20 de agosto de 2010

"O livro negro dos EUA" - Peter Scowen - reflexões

Entre os livros que estudamos na faculdade, me deparei com um em uma disciplina que não imaginei que encontraria. Estava esperando Maquiavel, Morgenthau, Kant, e os mais modernos, Celso Furtado, Gelson Fonseca Jr., François Chesnais, Eric Hobsbawm, teorias políticas, econômicas, conceitos pra lá e conceitos pra cá, até que encontro com Peter Scowen. Jornalista, canadense, mestre em Literatura Francesa. Seu livro, “O livro negro dos Estados Unidos”.
Não sei se por minha criação, ou por uma ingenuidade nata, sempre vi o mundo como “ele diz ser”. Lógico que depois que se começa a estudar Relações Internacionais essa visão começa a cair por terra, mas nenhum livro tinha quebrado tanto a minha ingenuidade como este quebrou.
O livro trata de temas clássicos da Política Externa americana. Guerra da Coréia, Guerra do Vietnã, conflitos entre socialismoXcapitalismo, Irã, o “Onze de Setembro”, mas com um detalhe: sem a visão americana da história. Scowen é canadense, e após quase perder sua irmã, que estava no World Trade Center, resolve mostrar ao mundo que os EUA não eram tão vítimas daquele ataque, e sim o criador. O ataque terrorista nos EUA foi apenas reflexo de sua política externa desde a Segunda Guerra Mundial, ou até antes.
Apoiados, antes na luta contra o comunismo, e agora na luta contra o terrorismo, os EUA acabam agindo no tabuleiro das Relações Internacionais, de uma forma completamente contraditória aos princípios que afirma ter, como representante da democracia, ou do welfare state, que se preocupa com o bem estar social, enquanto que por anos matou milhões de civis, direta ou indiretamente, em guerras ou guerrilhas, atirando ou ensinando a atirar, com o único objetivo de sair por cima mais uma vez, como o bom vizinho, que ajuda os mais fracos a vencer, que leva a democracia para o mundo como fez, ou tentou, no Iraque e em outros lugares.
Esse livro é o exemplo mais claro da teoria hobbesiana de que “o homem é o lobo do homem”; ou de Maquiavel, de que “os fins justificam os meios.” Pode-se entender claramente a teoria realista ao analisar a política externa americana no século XX, a busca por seus próprios interesses em primeiro lugar, sempre em primeiro lugar, independente das conseqüências e dos princípios morais que querem mostrar carregar. Scowen fala que “estavam bem equipados do know how e da indiferença ao sofrimento humano necessários para torcer os acontecimentos a seu favor”. Enquanto afirmam pra todos ser o “salvador do mundo”, se empenhando em solucionar todos os problemas, com efeitos midiáticos e de marketing incríveis, por trás forjam mercados de armamentos, como na Ásia, pela ilusão da ameaça mortal da Coréia do Norte, patrocinam guerras e guerrilhas contra os regimes que não são os que queriam que fosse, como no Chile ou na Nicarágua, ou no Iraque.
Não estou, entretanto, afirmando que os EUA é o pior ou mais cruel Estado que existe, ou que já existiu. Seria como dizer que o governo do Lula foi o mais corrupto do Brasil, mas é provável que não tenha sido. Acredito, agora, que analisando as entrelinhas, ou se formos olhar “embaixo do tapete” de outros países veremos que as coisas não são como parecem. A realidade não é como é mostrada. Todo dia vemos o que querem que vejamos, e é necessário um grau de abstração um pouco elevado para entender que não é assim que as coisas funcionam. E as vezes só entendemos anos depois, quando paramos para analisar a história com uma visão bastante diferente da que vivemos no momento.
Acho que não vou me esquecer deste livro, pois me fez enxergar o mundo através de uma outra lente, algo um pouco mais profundo, que trouxe à realidade de uma forma muito clara e simples, o que começamos a estudar na faculdade, que Maquiavel, Hobbes, Morgenthau nos falava a tanto tempo. A desconfiança e a busca por interesse do estado de natureza hobbesiano rompe séculos, e no fim de tudo é a maior força que rege o jogo das relações entre Estados.

2 comentários:

  1. Gostei muito do blog; estou no último ano do colégio e pretendo fazer RI. Achei muito interessantes as postagens, e pra mim vai ser uma forma de conhecer melhor o curso que pretendo seguir.

    PARABÉNS, e de certa forma obrigada!

    ResponderExcluir
  2. Fernado Osório Zoroastro V. de Melo12 de setembro de 2011 às 21:03

    Eis que o dito império do bem começa a ser escarafunchado. Ótima matéria

    ResponderExcluir